sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Gloriosa Vitória

                                     Diego Rivera, "La Gloriosa Victoria", 1954. Museu Pushkin, Moscou.

Para dar início às postagens, selecionei a obra para a qual tenho dedicado maior atenção nos últimos tempos (e continuarei dedicando ainda por um bom tempo), trata-se do mural "La Gloriosa Victoria", do pintor e muralista mexicano Diego Rivera.  O mural, pintado sobre uma tela, mede 2,6 por 4,5 metros. Foi pintado em 1954, e pertence desde 1958 à coleção do Museu Estatal Pushkin de Belas Artes, em Moscou.

"La Gloriosa Victoria" tem como tema central a participação dos Estados Unidos e das forças militares da Guatemala na queda do governo de Jacobo Arbenz, em 1954. A queda de Arbenz foi o fim de um governo democrático-burguês que propunha uma série de transformações de ordem conjuntural na Guatemala. Dentre as transformações, é possível indicar a Reforma Agrária de 1952 como um dos principais motivos para a intervenção dos EUA no país, que marcou a primeira operação organizada pela CIA para derrubar um governo estrangeiro. Além da CIA, a United Fruit Company, empresa estadunidense de produção e comércio de frutas (especialmente a banana), que teve terras expropriadas pela Reforma Agrária, o Departamento de Estado dos EUA, as forças armadas, elites e Igreja Católica da Guatemala tiveram importante participação nesse processo.

No canto direito da pintura, estão pessoas presas, uma delas segurando uma bandeira da Guatemala. Seguindo a pintura da direita para a esquerda, veem-se dois camponeses em sinal de protesto, com facas nas mãos, e outros indivíduos lamentando a morte de homens, mulheres e crianças, em um rastro de cadáveres que vai até os pés de um soldado guatemalteco, no canto esquerdo do mural. Atrás do soldado estão trabalhadores vindo de uma enorme plantação de bananas, todos eles carregando grandes cachos em direção a um navio com a bandeira dos Estados Unidos, aqui temos uma clara referência à United Fruit, dona de uma quantidade imensa de terras na Guatemala na época. No centro da pintura estão representados alguns indivíduos reais, como o secretário de estado dos EUA John Foster Dulles, que segura uma bomba com o rosto do então presidente dos EUA, Dwight Eisenhower, e cumprimenta o coronel guatemalteco Carlos Castillo Armas, quem assume a presidência após a queda de Arbenz. Do lado esquerdo de Foster Dulles, com a cabeça apoiada em seu ombro e carregando uma bolsa cheia de dólares, está seu irmão, Allen Dulles, chefe da Agência Central de Inteligência (CIA), e do seu lado direito o embaixador dos Estados Unidos na Guatemala, John Peurifoy. E a direita dos soldados guatemaltecos e estadunidenses aparece o arcebispo da Guatemala Rossell y Arellano, fazendo um sinal de bênção.

Diego Rivera pintou o mural ainda em 1954, poucos meses após a queda de Arbenz, portanto, ainda à luz dos acontecimentos. O pintor mexicano era ligado a pessoas próximas do governo Arbenz, e teria feito o mural à pedido de amigos mexicanos e guatemaltecos, com o objetivo de denunciar a ação imperialista no país. O título do mural é uma referência à frase dita por John Foster Dulles ao proclamar a queda de Arbenz: "uma gloriosa vitória para a democracia".

A obra passou mais de 50 anos perdida em uma bodega do Museu Pushkin, descoberta somente em um inventário no ano 2000. Em 2007, esteve no México participando de exposições em homenagem ao cinquentenário de morte de Rivera, e em 2010 no Palácio Nacional de Cultura da Guatemala, sendo a principal obra da exposição "Oh! Revolución 1944-2010, Múltiplas Visiones", que tinha como tema a Revolução Guatemalteca e posterior invasão estadunidense ao país. Após participar de tais exposições, retornou ao Museu Pushkin, onde permanece atualmente. 

Bem vindo ao blog Arte Testemunho

Prezado(a) leitor(a),

É com satisfação que apresento o blog Arte Testemunho. Aqui serão desenvolvidas pequenas apresentações e reflexões sobre as relações entre história e arte. Em princípio, meu objeto de análise será somente a pintura, uma das tantas formas de expressão artística.

Minha intenção é discutir brevemente os possíveis usos da pintura como fonte para a construção do conhecimento histórico e como recurso didático para o ensino de história. Nas últimas décadas, houve uma importante ampliação do conceito de fonte histórica, durante muito tempo restrito aos chamados documentos oficiais. Nessa ampliação dos tipos de evidências possíveis de serem usadas, as imagens tem ocupado um lugar cada vez mais importante. Representações pictóricas também são registros históricos, produzidas em um determinado contexto, sob um determinado ponto de vista, com uma intencionalidade e carregadas dos significados e escolhas do autor que a produziu e da sociedade na qual foi concebida. Constituem-se, assim, como testemunhas de tendências políticas, sociais e culturais do passado. Porém, o uso de imagens ainda é tímido, na maior parte das vezes  sendo usadas apenas como ilustrações.

Minha proposta é apresentar em cada postagem uma pintura, discutindo sobre o contexto histórico no qual foi concebida, o que pode representar, as condições de criação da obra, e outras análises que acredite serem relevantes. Assim, espero contribuir, ainda que minimamente, para o avanço de tais estudos, assim como para sua utilização em sala de aula.

SEJA BEM VINDO!